Resquícios de Magia Árabe no Catimbó Jurema
- Admin
- 12 de nov. de 2024
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Hoje, abordarei um tema raramente discutido no universo do Catimbó, pouco conhecido até mesmo por muitos praticantes: a presença de elementos da magia árabe, em alguns feitiços do Catimbó, assim como a existência de Encantados conhecidos como Gênios.
Historicamente, há relatos transmitidos por Mestres Juremeiros sobre feitiços que utilizavam garrafas para aprisionar ou controlar espíritos.

Esses espíritos podiam ser tanto de pessoas (como inimigos ou rivais do Mestre) quanto de seres Encantados, colocados ao serviço dos praticantes.
Também há registros de rituais específicos para capturar entidades maléficas, mantendo-as sob o domínio do Juremeiro. Esse uso das garrafas lembra práticas conhecidas da magia árabe, onde djinns (ou gênios) são frequentemente aprisionados e invocados.
Além disso, há pontos cantados no Catimbó que mencionam explicitamente os Djinns, reforçando a possibilidade de que alguns aspectos da magia árabe foram incorporados e ressignificados dentro da Jurema. A origem desse conhecimento entre os Mestres antigos é incerta, mas encontramos indícios no contexto histórico do Rio Grande do Norte.
Durante a era colonial, a costa do Rio Grande do Norte foi palco de diversos conflitos entre mouros e cristãos, incluindo uma batalha naval histórica na Barra do Cunhaú, em Canguaretama-RN. Essa região também era um grande aldeamento indígena, o que sugere que o contato entre indígenas e povos estrangeiros, incluindo mouros, possa ter facilitado uma troca cultural e espiritual. Assim, é plausível que esses elementos tenham sido absorvidos e adaptados, integrando-se ao Catimbó e moldando práticas que sobreviveram até os dias de hoje.
Essa intersecção entre a magia indígena e influências árabes destaca a riqueza e complexidade das práticas espirituais de origem nordestinas, revelando um sincretismo que reflete tanto as trocas culturais quanto a adaptação de saberes ancestrais ao longo dos séculos.
Texto de Kamila Juremeira
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