O que é o Tantra Hindu autêntico?
- Admin

- 23 de mai.
- 3 min de leitura
Quando afirmo que sigo o Tantra ou que sou iniciada no Tantra, muitas pessoas automaticamente associam isso à visão ocidental popularizada – frequentemente distorcida – que reduz essa tradição milenar a práticas com conotação apenas sensual ou sexual. No entanto, o Tantra ao qual me refiro não é um modismo, mas uma das tradições espirituais mais antigas, profundas e completas da Índia.

Tantra não é sobre indulgência.
É sobre transcendência.
A palavra Tantra vem do sânscrito e pode ser compreendida como "tecer", "expansão" ou "método".
É uma estrutura, uma tecnologia espiritual que entrelaça práticas, símbolos, mantras, rituais e filosofia para expandir a consciência além da dualidade.
Costumo dizer que Tantra é intenção: a intenção profunda que atravessa o tecido invisível da existência, unindo o mundo manifesto ao inmanifesto. Ele dissolve a ilusão da separação e convida o praticante a reconhecer o sagrado em tudo – no corpo, na mente, nos elementos e em cada ação da vida cotidiana.
No verdadeiro Tantra, não buscamos escapar da forma, mas realizar o sem forma através da forma.
Ao contrário do caminho purânico, baseado na devoção passiva (bhakti) e muitas vezes centrado na espera por bênçãos externas, o caminho tântrico exige responsabilidade radical.
Aqui, o praticante age, invoca, canaliza e transforma.
O Tantra entrega resultados porque transforma profundamente a mente e a realidade interna – não apenas através da fé, mas através da ação disciplinada e consciente.
Sri Vidya: a joia do Tantra

Na tradição de Sri Vidya – à qual pertenço – o Tantra é um caminho refinado, que une mantra (som sagrado), yantra (geometria sagrada) e bhava (sentimento devocional). Aqui, a própria consciência é adorada como a Deusa, a Devi, que habita no centro do nosso ser. O corpo é o templo.
A mente, o altar. A energia, o canal.
O sagrado não está fora, mas dentro.
Em Sri Vidya, o praticante compreende que cada mantra é uma frequência que reorganiza o campo vibracional do ser. Cada yantra é uma arquitetura do divino na matéria. Ao unir esses dois, cria-se uma ponte entre o microcosmo e o macrocosmo, realizando a união de Shiva (consciência) e Shakti (energia) dentro do próprio ser.
A Kundalini e o papel da energia sexual no Tantra.

Muito se fala sobre energia sexual no Tantra – e com razão. A energia sexual é a manifestação mais potente da Shakti no corpo humano. A Kundalini, a serpente adormecida na base da coluna, repousa envolta nessa energia vital. Para que ela ascenda, ela necessariamente precisa atravessar os centros sexuais. Quando existe repressão ou bloqueio, o despertar pode ser turbulento.
No entanto, isso não significa que o objetivo do Tantra seja a indulgência carnal. O verdadeiro praticante tântrico não desperdiça essa força em prazeres passageiros. Ao contrário, ele a cultiva, a sublima e a direciona para a iluminação. Isso exige autocontrole, disciplina e uma mente treinada.
Tantra é integração, não negação.
Quando vemos representações de divindades em união sexual – como os Yidams do budismo tântrico ou a união de Shiva e Shakti – estamos diante de arquétipos que apontam para uma realidade além da moral dualista. Esses ícones não representam apenas uma união física, mas sim a dissolução do eu limitado, a integração total da consciência com sua energia. São metáforas vivas de um estado de Samadhi não dual, onde prazer, dor, matéria e espírito se tornam UM.
Tantra é para quem busca a verdade com coragem.
O verdadeiro Tantra exige entrega, mas também coragem. Exige sinceridade radical, autoconhecimento e disciplina. É um caminho de fogo, mas também de amor. Ele não é para aqueles que buscam atalhos fáceis, nem para os que querem brincar com forças que mal compreendem. Ele é para quem deseja – com todo o coração – conhecer o divino, dentro e fora de si.
E é essa visão profunda, poderosa e transformadora do Tantra que quero compartilhar com você ao longo desta série.
Se você sente esse chamado, continue me acompanhando. O Tantra não é um conceito a ser entendido apenas com a mente, mas uma verdade a ser vivida com todo o ser.
Texto de Soror Asenath
(Sadhaka Sri Vidya)




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